Há universidades federais, estaduais, (poucas) municipais e privadas. Pensa-se a universidade federal do futuro, que se deseja inovadora e moderna para ser o carro chefe das demais. E qual a razão desse enfoque? Em primeiro lugar, porque as universidades federais estão presentes em todos os estados brasileiros, possuem, quase todas, um conjunto de ações, de ensino de graduação e de pós-graduação. Proporcionam e dão estímulos à pesquisa, pois cada vez mais os docentes possuem mestrado e doutorado, e continuada exigência de produção de conhecimento. Em razão do ensino, da pesquisa e da extensão, essas universidades possuem gestão similar e orçamento destinado pela União (1).
Considere, que para se diferenciar num de seus três pilares, as universidades deverão ter autonomia administrativa, financeira e acadêmica. Assim, o futuro demandará universidades autônomas, mais flexíveis e abertas, com estruturas inter, trans e multidisciplinares.
As humanidades e as chamadas ciências duras não terão um fosso entre elas. A distância entre teoria e a aplicabilidade também deverá ser reduzida. Isto é, o ensino e a pesquisa deverão estar aptos a solucionar com rapidez e maior número de questões tecnológicas e sociais que lhes forem postas. Com isso a universidade do futuro deve aperfeiçoar em muito sua secular tendência à inovação e criatividade, de enfrentamento de desafios para inventar o futuro.
Há quem defenda que as universidades se modernizem e fechem cursos destinados a fornecer diplomas. Esclareça-se, no entanto, que as humanidades destinadas a questões culturais e artísticas continuarão a existir, pois as artes e cultura desempenharão um papel fundamental na criação de soluções urbanas, tecnológicas, educacionais e de saúde pública.
O avanço, em contraposição à estagnação, demanda imaginação. Não é outro o entendimento de Gerard Malnic (2) que acentua “é reconhecido em todo o mundo que a função das universidades não é somente a formação de profissionais de nível superior, mas também a criação de conhecimento…”.
Haverá mudanças em muitas universidades em relação às empresas. Muitas pesquisas e mesmo práticas e procedimentos se tornaram obsoletos para o setor privado e governos. Assim, Etzkowitz avalia que “os centros de pesquisas passarão a ser mais do que laboratórios instalados dentro dos campi universitários…” e que “Eles serão híbridos e semelhantes às incubadoras, pois comportarão academia, indústria, pesquisadores e governo. Deles poderão sair grandes ideias que servirão às startups.” (3)
Para Giorgetti de Brito, … a mobilidade e flexibilidade deverão ser as marcas da educação superior no futuro, e as universidades deverão agir no sentido de identificar seus pontos comuns, áreas de excelência e possibilidades de interação e integração. (4)
Em 30 anos, a universidade será menos presencial em alguns ramos do conhecimento. Em geral, o ensino e a pesquisa adotarão a abordagem inter-, trans- e multidisciplinar, pois não terão mais departamentos estanques, faculdades e institutos isolados.
A mútua colaboração será exigida no ensino e na pesquisa. Como muitas das atuais especialidades deixarão de existir, outras profissões com visão de totalidade serão exigidas. A interatividade liberará recursos para sua aplicação de acordo com a demanda da sociedade, tal como indica Giorgetti de Britto “a Universidade do Futuro deverá estar em sintonia com a velocidade de avanço do conhecimento e com as exigências da sociedade, com total ciência e compreensão de suas missões cultural, econômica e política, sistêmica, comprometidas com a realidade…”. Os think tanks serão a tônica das abordagens conjuntas, de soluções conjuntas.
Nessa mudança de paradigma, é possível prever uma crise no ensino superior, a qual deve ser superada e deve ser cumprido o papel da universidade para evitar o que indica Isaac Roitman (5): “se nada fizermos, seremos no futuro uma sociedade com graves injustiças sociais, com índices assustadores de violência, com total desrespeito ao próximo e outras mazelas amplificadas que temos no presente.”
Por isso, o setor privado fará investimentos, modificando o comportamento atual de apartação entre universidades e empresas. Essa mudança estará em futuro bem próximo, com as universidades tenderão a ser mais propícias a criação de parcerias e de estruturas administrativas e acadêmicas mais flexíveis .
Enfim, acreditamos que a integração de diferentes níveis (universidade, governo, sociedade, setor privado) é a base para o futuro que queremos.
Referências
(1) Observe que a não autonomia financeira dificulta o exercício de previsões futuras para essas instituições.
(2) MALNIC, G. O futuro da Universidade pública. Acessível em http://www.unbfuturo.unb.br/videoteca/17-a-universidade-do-futuro-o-futuro-da-universidade – acesso em 17/10/2018.
(3) ETZKOWITZ. H. Como será a Universidade do futuro. Acessível em https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/03/como-sera-universidade-do-futuro.html. Acesso em 16/10/2018.
(4) BRITTO, L. R. G. de. A Universidade do Futuro. Acessível em http://www.iea.usp.br/iea/quem-somos/a-usp/a-universidade-do-futuro– acesso em 15/10/2018.
(5) ROITMAN, I. A Educação: para onde vamos? Acessível em https://www.moderna.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A7A83CB31BFE9740131D31F5A442B61 – acesso em 16/10/2018.
Aldo Paviani é professor emérito da Universidade de Brasília e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR/CEAM/UnB). Graduado em geografia e história pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e livre docente/doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência em geografia urbana, atuando principalmente nos temas: urbanização em Brasília, gestão do território, planejamento urbano, exclusão socioespacial e emprego/desemprego em áreas metropolitanas.
Revista AD Normas - 15/01/2019.